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obrigada

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A nudez da bonequinha


Encontrei na rua, certo dia, uma boneca nua, sem os braços e com apenas uma perna. Ela tinha os cabelos desgrenhados e estava sem os olhos. Penalizada, levei-a para casa para dar-lhe um banho, vesti-la e, quem sabe, fabricar um braço ou uma perna. No caminho, escolhi um significativo nome para ela: Jaqueline!
Ao chegar a casa mostrei a boneca ao meu pai. Ele tomou-me a mão e pediu que eu indicasse o local onde a havia encontrado. Eu indiquei e ele me disse para deixá-la exatamente naquele lugar. Depois,sentou ao meu lado no meio fio e contou-me uma história longa e que eu não entendi.

Era sobre um homem que meu pai apreciava. Um homem sábio que gostava de poesia, música, retórica, física e metafísica. Explicou-me meu pai que o homem era preocupadíssimo com a ética, os valores e a virtude. E, depois, fez o favor de me explicar o significado de cada palavra e o fez de um modo que, a seu ver, eu entenderia. E conseguiu com isso apenas empatar a minha ida à casa da Meirinha, minha melhor amiga, para brincar de capturar vagalumes. À noitinha era o melhor horário para isso: agente os prendia em vidros para usá-los como abajur.

O nome do homem era Aristóteles.Que nome complicado, eu exclamei! E, como a captura dos vagalumes restara prejudicada dado o passar da hora, pedi a meu pai que me explicasse novamente o significado das três palavras que eu mais apreciara ouvir: ética, valor e virtude. Meu pai explicou, explicou e explicou. E percebendo que eu continuava sem entender, disse que ética era devolver a boneca, valor era jamais tê-la trazido para casa e virtude era a perna solitária da boneca, que não se perdeu porque jamais se perderia.

Hoje, se eu pudesse, gostaria de contar a meu pai o que presenciei ontem em uma das Casas do povo: enquanto as palavras, indecorosas, se perdiam ao vento, a ética, o valor e a virtude jaziam em um canto, derrotados.

Olhei a moça chorosa que discursava naquela Casa e pensei na bonequinha desgrenhada de outrora. Eu quisera vesti-la com as roupas da decência, mas, ao fim e ao cabo, ela continuou nua.





Eliane Elias de Rezende

Um comentário:

  1. Oie Giusi Dangelico, tudo bem? Vi que comentou um artigo meu no Webartigos, agradeço o seu carinho, e sim, pode publicar o artigo, ou qualquer outro que deseje, agradeço sua divulgação... conheça meu blog: http://primaveranocoracaoamor.blogspot.com, me diz o que achou... adorei o seu, vou te visitar sempre que puder, bjinho no seu coração
    André Carim

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